terça-feira, 13 de maio de 2014

Neruda, Capra e o Fim do Mundo


Para recomeçar nossa jornada Formidável, republicamos o texto abaixo, sobre o filme “Ponto de Mutação”, baseado no livro homônimo de Fritjof Capra. 

Um político, uma cientista e um poeta discutem problemas físicos e metafísicos, tentando encontrar um caminho para a salvação da Humanidade. No momento em que a política totalmente perdida não encontra um caminho para a preservação do planeta; "no instante em que a confusa ciência não encontra solução em seus teoremas e a física quântica timidamente tenta ajustar o ponteiro de sua bússola; a poesia vem, talvez não para esclarecer, mas para nos consolar e sugerir humildade diante das dimensões labirínticas do Universo". Às vésperas do "fim do mundo" esta é uma mensagem essencial. 

Quem quiser o filme, tenho no meu pen drive. É só me encontrar. A história ainda se passa no Monte São Miguel, na França (foto), um lugar mágico.

O mais legal é que o poema final é de Pablo Neruda. Meu amado poeta, que dá o nome à rua onde moro. Aliás, fui eu que pedi à Câmara e consegui batizar o logradouro. O texto é FORMIDÁVEL!!!!!

Peixe Preso Dentro do Vento

Tu perguntas
o que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?
Respondo que o oceano sabe.
E por quem a medusa espera em sua veste transparente?
Está esperando pelo tempo, como tu.
'Quem as algas apertam em seu abraço...', perguntas
'mais firme que uma hora e um mar certos?' Eu sei.
Perguntas sobre a presa branca do narval
e eu respondo contando como o unicórnio do mar,
arpado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei-pescador
que vibram nas puras primaveras dos mares do sul.
Quero te contar que o oceano sabe isto:
que a vida, em seus estojos de jóias,
é infinita como a areia incontável, pura;
e o tempo, entre uvas cor de sangue
tornou a pedra dura e lisa encheu a água-viva de luz,
desfez o seu nó, soltou seus fios musicais
de uma cornicópia feita de infinita madrepérola.
Sou só a rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão
e de dedos habituados à longitude
do tímido globo de uma laranja.
Caminho como tu, investigando a estrela sem fim
e em minha rede, durante a noite, acordo nu.
A única coisa capturada é um peixe preso dentro do vento.

Pablo Neruda

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