quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Quatro em cada cinco jovens internautas acreditam que a internet é vital


Do que um ser humano precisa para sobreviver? Sem ar, uma pessoa pode desmaiar em menos de dois minutos. Sem comida, morre em 45 dias. Sem um litro diário de água, não sobrevive mais do que sete dias. Os dados, da National Geographic, representam a estimativa para um homem adulto, com cerca de 68kg. Agora, acredite: tem muita gente dando à internet o mesmo peso desses elementos essenciais para a vida.
O estudo Connected World Technology Report, encomendado pela Cisco (empresa líder do setor de redes), entrevistou 2,8 mil universitários e jovens trabalhadores (com até 30 anos) em 14 países diferentes; entre eles, o Brasil. O resultado mostra que quatro em cada cinco pessoas dos dois grupos consideram a web um recurso tão fundamental como ar, água, alimento e moradia. O estudo investiga a relação do homem com a difusão das redes e oferece uma ideia do pensamento e das expectativas da próxima geração da mão de obra mundial.
Mais da metade dos entrevistados brasileiros (66% dos estudantes e 75% dos jovens que trabalham) se identifica com a situação e afirma não conseguir viver longe do mundo virtual. Se tivessem de optar entre o carro e a rede mundial, cerca de dois em cada três (63%) escolheriam a internet. E mais: mundialmente, um em cada cinco universitários (21%) não compra um livro físico (com exceção dos escolares) há mais de dois anos. Dentre os brasileiros, 34% jamais fizeram essa aquisição.
“Experimentar uma falha na rede é o mesmo que ficar sem água ou luz na cidade. Não significa que as necessidades básicas possam ser substituídas, mas que a web ficou tão importante quanto elas”, comenta Ricardo Ogata, gerente de desenvolvimento da Cisco no Brasil. O executivo acrescenta que quase todas as atividades dos jovens estão relacionadas com o mundo virtual, seja no smartphone, no tablet, no PC ou na televisão.
De acordo com o doutor em psicologia Marcos Abel, a vida humana está transcorrendo em um mundo progressivamente artificial. O estudioso, que já trabalhou na área de informática por cerca de 10 anos, reconhece que a rede é importante tanto para o trabalho como o lazer. Mas problemas podem se manifestar quando o virtual substitui o real em grande medida ou inteiramente. “Quando o amor ou o sexo virtuais têm preferência sobre os reais, por exemplo”, comenta.
A questão merece cuidado. A aparente ausência de limites na telas, seja de espaço, tempo ou moral, pode ser transferida para o mundo concreto, segundo Abel. Portanto, é importante não perder de vista a diferenciação entre fantasia e realidade. “E nisso tem papel fundamental a educação para o desenvolvimento do pensamento crítico”, conclui.
Em alerta
“Nossa navegação foi muito além das expectativas”, comenta Lúcio Teles, doutor em informática na educação. O estudioso, que voltou recentemente do Canadá, diz perceber a mesma situação com o uso da rede nos celulares — talvez até mais intensa do que a brasileira. O problema, segundo Teles, é quando a necessidade de acesso passa a ser comparada a uma dependência fisiológica. Ele acrescenta que o lado negativo aparece quando os jovens se isolam do contato físico e deixam de fazer atividades que há 10 ou 15 anos eram usuais, como brincar na rua e jogar bola. “Ainda existem, mas elas perdem espaço para o computador. É um sinal de alerta para o futuro”, completa.
E as consequências não param por aí. Os netaddicted, como são chamados aqueles que não desgrudam das telas, apresentam maior possibilidade de ter depressão. Um estudo com mais de mil adolescentes chineses, por exemplo, publicado na revista Archives of Pediatric and Adolescent Medicine, classificou 2% do grupo como internautas com problemas “severamente patológicos” e com o dobro de propensão a desenvolver doenças depressivas, em relação aos que acessam moderadamente.
Para o psiquiatra e professor da Universidade de Brasília Rafael Boechat, o conceito de dependência psicológica é mais amplo do que a da química. E as pessoas devem se preocupar quando o uso da internet começar a interferir na socialização com outras pessoas. “Os resultados são preocupantes. Os jovens estão colhendo frutos do marketing absurdo da web”, analisa. “A ferramenta, muito útil, extrapolou o racional.”

Fonte: Correio Braziliense

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